Quando me perguntam sobre as pessoas que mais me inspiraram na cozinha, a resposta nunca é simples. Minha avó, Laura, foi a primeira. Minha mãe, Stella, trouxe aquele ar festeiro de gostar de receber e fazer com que sempre coubesse mais um à mesa. Minhas ex-sogras, Helena e Lula, cozinhavam muito e maravilhosamente bem, contribuíram com a arte de servir. Sou superfã de vários chefs, claro, mas dois em especial trouxeram aquele brilho no olhar que nunca perdi desde que comi em seus restaurantes: Paul Bocuse e Joël Robuchon.

Curioso ver que as mulheres foram as responsáveis pela minha, digamos, iniciação. Mas no ramo da gastronomia, elas não eram muitas na época. Na realidade eram raríssimas e pouco se falava sobre seus trabalhos. Uma pena que a Internet ainda não fosse uma realidade para que pudéssemos achá-las e jogar luz sobre suas carreiras, inovações e criações.

Mas tive a sorte e o prazer de conhecer Joël Robuchon logo que ele abriu o “L’Atelier de Joël Robuchon”, em Paris. Nunca tinha ido a um lugar como aquele, onde todo mundo ficava sentado ao redor do balcão e várias delícias eram servidas. O objetivo era fazer com que os clientes se sentissem à vontade para interagir com o chef e seus pratos. Foi uma experiência indescritível ver como ele enxergava a comida como arte, desde o produto até chegar à mesa com muita técnica, sempre nos causando uma experiência única.

Joël foi um divisor de águas na minha história. Quando o conheci, disse: “não vou só alimentar as pessoas e fazer da experiência uma festa, vou transformar tudo em arte também”. E isso foi muito importante para a minha carreira como chef, empreendedora e restauratrice.

Sobre o chef Joël Robuchon:

Os feitos de Joël Robuchon na gastronomia mundial deixaram uma marca imutável, o que lhe deu muitos prêmios, como o título de “Cozinheiro do Século XX” pelo Guia Gault&Millau. Seu legado é empreendedorismo, inovação, método e arte. Juntos, seus restaurantes em várias partes do mundo acumularam 32 estrelas no Guia Michelin. Atribuídas não apenas pelo primor dos pratos, mas também pelo ambiente e o serviço oferecidos.

Robuchon é francês, nasceu em 1945 na cidade de Poitiers, e morreu ano passado aos 73 anos em Genebra, Suíça, vítima de câncer. Filho de um pedreiro e de uma dona de casa, ele aprendeu a cozinhar na adolescência. Aos 12 anos, ajudava a preparar as refeições do seminário, onde entrou com a intenção de virar padre. Aos 15, saiu para auxiliar Robert Auton, na cozinha do “Relais de Poitiers”. A primeira grande premiação veio em 1978 ao ser laureado com 2 estrelas no Michelin por seu trabalho no Hotel Nikko. Seus feitos na cozinha entraram para a história e ele foi reconhecido por seus pares como gênio. Escreveu dezena de livros e foi um dos primeiros a estudar a cozinha espanhola e a investir na culinária japonesa.

Quando completou 50 anos, seu restaurante “L’Atelier de Jöel Robuchon” foi eleito o melhor do mundo pelo jornal International Herald Tribune e ele percebeu que era hora de mudar. Deixou o comando das panelas, passou a dividir seus conhecimentos na TV e a replicar sua fórmula vencedora pelo mundo em novos restaurantes. Sempre empregando o mesmo rigor técnico e a mesma alma de sua cozinha: emocional, elegante, precisa.