Todos aqueles que me conhecem sabem o quanto é forte em mim o viés feminista e humanista. Não sem motivo, usei a frase ‘lugar de mulher é onde ela quiser’ durante o “Hell’s Kitchen”, minha estreia na TV no SBT; e segui usando como um bordão durante a programação. Essa frase além de empoderar as mulheres, tem muito a ver com tudo o que vi e vivi. As mulheres que me precederam, avó e mãe, são mulheres de histórias fortes.

Fui criada pela minha avó, Laura, porque a minha mãe teve depressão pós-parto. Ela sempre foi minha referência de amor. Era com ela que eu ficava na cozinha, foi com quem aprendi a costurar, o que garantiu meu primeiro emprego fixo na Yes, Brazil. A marca do Simão Azulay era símbolo da identidade nacional baseada no jeito carioca de vestir. Depois que ele morreu, abri a minha própria confecção e comecei a ganhar dinheiro. 

Minha avó era filha de italianos, nasceu em 1905 e morreu em 2004. Na década de 40 ficou viúva com três filhas para criar e foi morar em um quartinho de empregada. Queria se casar outra vez, mas achavam um absurdo, porque o meu avô tinha morrido… abdicou da vida dela e sustentou a família fazendo costura.

Minha mãe, Stella Maris, viu meu avô morrer de câncer nos ossos. Tinha 7 anos e acabou sendo criada na casa das irmãs. Minha mãe, uma mulher criativa, independente, ‘prafrentex’, que gostava de curtir a vida, era simplesmente uma mulher livre, mas as pessoas não entendiam assim. 

Ela trabalhava na Tupi quando engravidou de mim e na época não havia nenhuma Lei Trabalhista que a protegesse. Imagina em 1968 uma mulher engravidar sem ser casada e já tendo um filho? Foi mandada embora, entrou em depressão e eu fui morar com a minha avó. Só conheci minha mãe com 4 anos. Se casou com um homem careta, que não queria que ela trabalhasse. Mais uma que abdicou da vida, dessa vez por amor. Hoje tem 74 anos, mora em Petrópolis.

‘Lugar de mulher é onde ela quiser’, portanto, não é só uma frase de efeito: tem tudo a ver comigo. A vida com a minha avó foi muito legal; com a minha mãe, um grande aprendizado. Foram exemplos muito fortes do que eu não queria para mim; então, sempre busquei ser feliz e não repetir os mesmos erros nem comigo e nem com a minha filha, Noáh. Acredito na energia que temos em romper os padrões. E Noáh chegou há 14 anos para transformar tudo em luz, compaixão, força e amor.

Eu sempre defendo as mulheres, ainda mais quando alguém vem falar mal de uma para mim. Temos que nos defender, nos unir, nos ajudar. Acho que nosso grande defeito enquanto grupo é imitar o homem em tantas características e deixar uma das mais interessantes de fora: a união que eles têm entre eles. Não precisamos olhar a outra como uma ameaça; mas sim como parceira. Que essa seja a nossa a nossa reflexão!