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A jornada para me tornar chef na França
Me tornar chef: Eu, que amo viajar, vejo no Velho Continente lugares incríveis para se visitar, viver, experimentar e amar. O país europeu que tem mais a ver com a minha história é a França: o começo de uma jornada de aventuras na busca por conhecer e praticar a gastronomia.
Tinha 22 anos, peguei o dinheirinho que juntei fazendo festas temáticas em Petrópolis, comprei a passagem, reservei 500 dólares e fui para França. Queria estudar fotografia e gastronomia, mesmo sem falar francês ou conhecer alguém por lá. Tinha o passaporte francês herdado do meu pai e determinação para seguir em frente, mesmo com medo.
Antes de partir, pedi a uma amiga para escrever várias cartas para prefeituras por toda a França, onde eu sabia que o meu avô havia trabalhado. Ele foi um cônsul famoso, querido e premiado, trabalhou inclusive com Charles de Gaulle. Uma pessoa me respondeu em Lilly, norte da França, falando que teria o maior prazer em me receber. Fui! Quando cheguei fazendo umas mímicas loucas para tentar me comunicar, ele olhou e disse: ‘Foi um prazer te conhecer! Volte para o Brasil e aprenda a falar francês e retorne, que eu te ajudo’.
Esse foi o primeiro e forte choque de realidade que tomei na França. A pessoa que seria o meu salvador, que abriria as portas para mim… me mandou embora! Ali, vi que não seria fácil, que tudo o que eu precisava conquistar seria na garra. Como sempre foi na minha vida. Saí de lá destruída, fingindo que estava tudo bem. Só que eu não tinha dinheiro para voltar ou sequer para pagar mais 2 dias no albergue em que fiquei.
O primeiro mês foi uma tragédia: passei fome. Sem dinheiro e sem falar francês tive dificuldade em arranjar emprego. Consegui um trabalho em uma escola que com 300 crianças. Quando fui promovida a descascadora de legumes, o chef percebeu meu talento e conseguiu um estágio em Paris. Como não havia completado o ensino médio, não pude ganhar a bolsa de estudos para cursar gastronomia. Mas isso não me fez perder o foco. Eu aprenderia na prática! Foram três anos bem intensos.
Comecei lavando louça e fui crescendo rapidamente. Prestava atenção e procurava entender e aprender as outras funções do restaurante. Eu batia na porta dos lugares que queria trabalhar e pedia para me deixarem ficar por uma semana de graça e, se gostassem, seria contratada. E não é que me contratavam (risos)??!! Isso foi me dando autoestima.
Fiz questão de passar por todos os setores de um restaurante: cozinha, bar e salão. Logo vi que havia rixas entre os funcionários e que para um estabelecimento funcionar bem, não podia ser assim. Servíamos comida e a energia tinha que ser genuinamente feliz. Então, prometi a mim mesma que abriria um restaurante onde as pessoas fossem respeitadas e felizes. Acredita que consegui isso nos meus 7 restaurantes entre Rio e São Paulo?!
Acredito que quando você faz o caminho certo e não o que parece mais fácil, a vida conspira a favor. Precisamos cuidar das pessoas ao nosso redor e saber o que nos traz felicidade.